quinta-feira, julho 15, 2004

É fácil criticar com um sorriso no rosto, escondendo a acidez de um comentário naquela expressão de “deixa disso”... Mais fácil ainda dizer que entende, pedir desculpas ou tentar contornar mágoas unicamente com palavras, seguindo todo o protocolo do convívio social. Mas não, bonito mesmo é cuspir todo o ressentimento ruminado, expurgar cada mal-entendido com a (in)exatidão da franqueza, sentir a seriedade das circunstâncias e esmiuçar o atrito, exteriorizar o desgaste... Nem todo mundo, no entanto, está pronto para falar, muito menos para ouvir, encarar a mágoa alheia ou a reprovação e entender a nobreza dessa mágoa, quando sincera e vivida até seu esgotamento. Para alguns, torna-se mais fácil varrer pra debaixo do tapete as diferenças, concluindo que o que subjetivamente não se entende não se explica. É assim que ambos sabem, alguns percebem, mas nada é dito... Fica tudo em meios-termos, não encarado, implícito...
Por isso quero a crítica, feita e recebida sem sorriso no rosto, sem amenidades anexas, sem tapinhas nas costas, somente a crítica, honesta e construtiva, carregada de preocupação, quase um gesto de afeto... Nem a complacência nem a agressão ou o rebaixamento, apenas a sinceridade. Quero a oportunidade de recebe-las, o equilíbrio para ouvi-las e toda a intimidade daquele ou daquela que a profere.
O que rechaço, no entanto, são os paradigmas, os conselhos cegos, as frases feitas, as opiniões auto-referentes, pois creio que qualquer opinião deve ser emitida com o respeito de considerar as diferenças e entender que as opções de vida são distintas e fundamentam-se em anseios pessoais e sonhos inalienáveis.

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