quinta-feira, janeiro 18, 2007

trinta

Em uma coisa, pelo menos, eu concordei com o Banco do Brasil: seu marketing de fim de ano, que está construído sobre a idéia de que “a vida é feita de pequenas contagens regressivas”. Aliás, não deixa de ser uma ironia que eu tenha dado o ar da graça por estes dias trajando uma camiseta com estes dizeres oficiais, no meu trabalho. A minha contagem começou oficialmente, hoje, e vai de 30 a 1. Depois disso, para o bem ou para o mal, muita coisa muda em minha vida, e é com muito otimismo que eu penso que, talvez, só por essa possibilidade que nos é dada de mudar o que está colocado em nosso entorno - as nossas condições de vida - precisamos celebrar a vida. A possibilidade da mudança, da libertação, do novo; o medo e a felicidade de descobrir o nosso poder de fazer grandes ou pequenas destruições, de saber que nossos gestos surtem efeitos mais ou menos perceptíveis e que, exatamente por isso, somos tão responsáveis por cada um deles.

Há bastante tempo eu deixei de rezar, mas há uma prece que eu nunca abandono: uma prece leiga, laica e torta que pede, a cada nova reviravolta, que elas não cessem nunca, que eu jamais encontre apenas o previsível, o esperado, a temível e sedutora “estabilidade”. E sei que há um preço alto a pagar por essa possibilidade das rupturas e recomeços: pois toda época tem algo de bom e de ruim, e não há nenhuma garantia de que o bem permaneça e que somente o indesejável se afaste. Podemos mesmo, vez por outra, perceber o tempo funcionando como uma peneira ao contrário, detendo o que nos fere e levando furtivamente o que nos é precioso. Mas faz parte do risco e da graça, para quem sabe jogar: pôr à prova o que há de bom, esperando o que está por vir e apostando no que é diferente, acreditando-o melhor. É também um ato de confiança e generosidade, este: renegar o indivíduo que somos hoje acreditando na nossa capacidade de sermos melhores; que o mundo nos trará novos presentes e não nos deixará de mãos vazias.

Engraçado mesmo, nisso tudo, é também perceber como tudo parece mais entusiasmante, fantástico e cheio de promessas quando imaginado em pleno desespero. Sim, pois os louros da vitória nunca são tão perceptíveis e gritantes quanto em nossos planos e fantasias: quando conseguimos mal podemos acreditar, e é tudo tão leve e sutil que, com um pouco menos de atenção e cuidado, quase podemos deixar passar em branco e esquecer o quanto nos custou e o quanto é importante. O medo e o condicionamento a que nos submetemos são tantos que só se pode explicar a vertigem e a cautela com que celebramos esta energia vital que surge das mudanças por meio das metáforas, como àquela a que recorreu Mari, ao lembrar dos bois que, mesmo depois de libertos, continuam andando em círculos ao redor do moinho que faziam movimentar, no filme Abril despedaçado. Estão soltos, mas só sabem andar em círculos, e lhes custa olhar para os lados e imaginar que podem fazer diferente, que só lhes basta mudar o passo.

A adrenalina de tomar uma decisão importante e saber que a responsabilidade é toda sua é uma espécie de “estresse bom”, como disse um amigo: a preocupação com as conseqüências que sobrevém a uma escolha definitiva; o friozinho e a vertigem que sentimos quando abrimos mão de algo importante e precisamos fazer valer a pena a escolha; e, acima de tudo, o imperativo pela criação de novas alternativas que façam frente às que irremediavelmente deixamos para trás.

Sim, não há dúvida: é o ano novo bem ali, logo depois do carnaval, mas desde já e sempre, em cada dia.

domingo, janeiro 07, 2007

o melhor do ano



Se em 2005 o melhor filme que eu vi nos cinemas foi aquele atentando terrorista chamado Caché, no ano passado eu penso que a melhor coisa que passou por aqui foi o novo filme de Wong Kar-Wai, 2046, que deixou muita gente embriagada de amor e suspirando pelos cantos, nos cinemas, nas ruas, nos bares e nos quartos, com sua própria viagem a um espaço/tempo distante e bem particular onde as memórias e as sensações amorosas estão vivas.
Eu tenho a impressão de que, da mesma forma que me coloquei em maus lençóis ao fazer de forma tão veemente a propaganda do filme de Haneke e mobilizando pessoas para irem ao cinema assistir - e colhendo as reações mais diversas depois - também poderei ter problemas com este aqui. Então aviso logo aos destemidos que as películas desse chinês estão sempre à beira da pieguice: é algo como uma embriaguez amorosa mesmo, uma exasperação dos sentidos, com direito até mesmo a algumas idéias repetidas à exaustão - como aquela do segredo soprado no buraco da danada da árvore - o que pode aporrinhar a paciência dos menos suscetíveis ao romantismo sem limites.
Vale ressaltar também que essa obra pode ser péssima para a saúde, principalmente se você está tentando largar o cigarro. Em 2046, fumar é uma experiência quase estética, acho - assim como em seu filme anterior, "Amor à flor da pele".
Na verdade, os filmes de Wong Kar-Wai são como um bom brega daqueles das antigas: ou você embarca na dor de cotovelo ou acha um exagero só, tudo aquilo. A maior prova disso é a presença inusitadíssima da música "Perfídia", na trilha do filme.
Não é pra qualquer um não, viu? É coisa pesada: bonita e romântica de doer.
Ai, ai...

sábado, janeiro 06, 2007

apelo

LAVÍNIA, COME BACK!

WE LOVE YOU!