quarta-feira, dezembro 28, 2005

pacto

Você, que tantas vezes olhou para o céu, nas noites altas da estrada, e teve um lampejo efêmero de transcendência, achou que tudo era grande e inexplicado e bom e sentiu um aconchego de colo com essa idéia épica que – você não sabia – era sua consciência de natureza aflorando, dando-lhe essa ousadia de acreditar no divino, de reconfortar-se na pequenez de um mundo gigante enquanto achava nessa mesma vastidão uma promessa de futuros cheios de si, inabaláveis em sua revelia, seu mistério de acontecer. Ousadia que era quase pecado, inibida por tua cabeça ceticamente construída para negar, cheia de falsas idéias de certeza.
Era nessas altas noites que você repousava, feliz, cansado, sem ordem para pensar nem tampouco métodos para sentir, mas eram essas mesmas noites que sufocavam, tensas, pelo gosto frustrado de liberdade engasgada. Então você sonhava mais, e mais alto, mas num sonho natimorto, sem esperança de existir, seco e sonolento. Sonhava com outras estradas, emoções e atos de independência que não sabia a que atribuir. E no dia-após-dia de caminhos retos esse desejo expansivo se reprimia, abafando o estopim impossível e carente de planos em mais um sono e mais um trago. E forjando alegrias para evocar essa felicidade irreal, enterrava as felicidades repentinas reais... E alimentando essa tristeza de bicho preso ignorava as infelicidades que não tinham lugar nenhum no mundo, dispersas, difusas... Vivia alegrias que não eram suas, e tristezas que inventava. O mais, o real, foi momento efêmero que pouco se contou.
Mas faz como naquelas noites e olha para o céu, e veja que a lua e essa brisa e essa temperaturazinha boa e ainda o possível mar que às vezes se vê, são eles todos tão reais quanto a sujeira que você aspira impassível, a casca que usa a contragosto e até o que você chama de coletivo. Percebe que para além do convívio humano há uma natureza que é concreta e orgânica como a sua matéria e ao mesmo tempo tão metafísica quanto os seus sonhos. E é assim que se percebe a impossibilidade de estar completamente sozinho - no pior, no melhor, estamos juntos, você e eu, num diálogo difícil mas cheio de sinceridade, brilho nos olhos e entendimento que à custa de muito esforço se consegue. Sim, podemos nos entender, pois eu já te acompanho há tempos: tuas antigas solidões à janela, já de todo superadas; teus segredos tão bem guardados, resvalando em ímpetos incompreendidos; teus defeitos indisfarçáveis e teu medo de regredir; teus sonhos contraditórios, desmentidos e logo em seguida reafirmados, sucessivas vezes, pela espontaneidade e mais ainda pela incapacidade em dosa-los ou guarda-los para si. Na pior, na melhor das hipóteses, olhemos sempre para essas coisas boas ao alcance, e assim mintamos, se for preciso, pois juraremos que elas serão nossas, sempre, e diremos que é tudo necessário e bom ao espírito, e reconstruiremos nossas lembranças, nossos afetos, agora que descobrimos que o bom e o mau dependem tanto da gente e que a nossa divindade boa e difícil é o Tempo. E quando aquelas dores, bem, quando elas parecerem insuportáveis demais - a saudade, a incerteza, o desejo, a esperança, essas coisas que machucam – vamos tentar pensa-las assim, como coisas, elas mudam!, elas passam! E quando a impossibilidade do que para os outros é fácil se mostrar, na sua cara, e você tiver ânsia daqueles caminhos impossíveis, vamos fazer planos de estrada, cultivar sonhos realizáveis de mundo, e se o medo de que eles jamais se realizem apertar um pouco mais o coração, prometa que haverá um esforçozinho para sorrir e eu te prometo: vou te trazer, Fábio, um ano novinho de presente!

Para ouvir: “Ce matin la”, do Air

domingo, dezembro 25, 2005

quase-fim

Ok, eu passei uns dias pensando em um jeito de acabar isso aqui de forma interessante e definitiva. Por diversos motivos, mas principalmente porque tenho me motivado a escrever sobre outras coisas que certamente cabem melhor em outro espaço que não aqui, neste “lost in solitude”. Mas em respeito a esta companhia fiel de mais de um ano e por pura falta de idéia de como começar algo diferente e de como e o quê eu quero escrever agora, vou continuando por aqui. No mais, já me acostumei ao tom meio confessional e ao estilo meio esquizofrênico desse blog em que cabe de tudo, heterogeneamente - de resenhas bestas de filmes a insanidades escritas depois de uma bebedeira.
Bom, o que dizer? É natal, mas eu que não o levei a sério cometi o erro tosco de achar que todos pensaram exatamente igual a mim. Quero dizer, eu simplesmente entrei nessa ondinha esnobe de dizer que o natal é uma data comercial, hipócrita e tabacuda, e esqueci que, para além da mercantilização e de algumas baboseiras natalinas, há quem ainda consiga fazer das comemorações, dos simbolismos, a oportunidade para coisas bonitas: presentear quem se gosta, desejar coisas boas. Eu não me dei conta disso a tempo e fui pego pelo natal “de calças curtas”, como se diz. Ganhei presentes e votos de felicidades quando já não havia tempo para presentear nem desejar nada a ninguém.
E claro, como as relações sociais são feitas também de conflito, fui surpreendido com uma alfinetada em forma de mensagem de afeto. Acho justo: ocasiões especiais também são bons momentos para apontar, aos outros, aquelas coisinhas que não gostamos e que podem virar resolução de ano novo. Desejaram que eu fosse sempre “o meu melhor”, e eu então tive medo de que tenha sido o meu pior para esta pessoa em algum dia, este ano.
Então tá, primeira resolução de ano novo: vou buscar ser sempre o meu melhor, para todo mundo. Mas quando outra ocasião especial surgir, vou dar um jeito de deixar a todos o meu pedido, junto aos votos: “O meu melhor? Vou tentar. Mas, por favor, percebam sempre...”

P.S. Feliz natal a todos. :p

segunda-feira, dezembro 12, 2005

de bob

Na madrugada, uma música para amansar a vertigem – na hora certa, quando vou dormir – vem da rua. Ela diminui um pouco minha disposição para pensar no quanto pagamos por agir de forma espontânea, por tornar nossos erros completos - por errar até o fim, até que não nos seja mais possível persistir, e só aí, então, reconhecer a necessidade de mudar. Chamam a isso teimosia, mas eu também vejo como plenitude: ser honesto até mesmo com as fraquezas quando elas são urgentes, se espalham por todo o resto e abafam o que é força e convicção, adquirindo ares de soberania. Mas há tempo pra tudo, inclusive para reconhecer os equívocos, a cegueira e – obviamente – as perdas. E a madrugada guarda também lembranças que trazem força, e elas estão, na maioria, bem ali, pela janela, se mostrando. É só uma questão de disciplina, pra não deixar que o que está mais próximo pareça excessivamente grande, insuperável. Existem idéias que trazem respostas, basta força para reavivá-las. Com elas, e com música, e com um pouco de sorte, e comigo mesmo - único parceiro e cúmplice incondicional de todas as merdas - eu passo por tudo isso, reconstruo o que der e ainda escondo minha dor.
Será que a música ajuda mesmo? Será que dá tempo recuperar… Enfim… Tudo indica que sim.

“One good thing about music
when it hits you (you feel no pain)
Oh, oh, I say, one good thing about music,
when it hits you (you feel no pain)
Hit me with music, hit me with music now…”

(E claro, um pouquinho de energia rasta também ajuda… :p)

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Precisa-se de plano infalível para ganhar o mundo.