sexta-feira, agosto 27, 2004

...dos Diálogos...

Havia uma barreira intransponível... Algo que o separaria de todos ao seu redor, que o impediria de atingir um momento de verdadeira proximidade com aqueles que o cercavam. Os limites físicos de sua consciência, seu intelecto, sua razão, seus sentimentos, isolavam sua verdadeira identidade em um interior que não o comportava. E ficou perplexo ao constatar que aquela limitação absurda era imposta a todos os outros, talvez... Mas por que de modos tão diferentes? O que levava cada ser humano a trazer consigo, estigmatizados, os sinais de sua vulnerabilidade? Entendia que havia recebido algo especial, que o diferenciava de qualquer outro e o tornava único. Mas por que tantos estigmas, por que deixar expostos tantos pontos fracos, e permitir a todos a facilidade do estranhamento, do desajuste, da reclusão?
Cada qual com suas feridas e suas dores. A carne como uma representação frágil da sua individualidade... Todas as armas foram dadas, ao homem para acusar, recriminar, e ao mundo para ferir. O tempo a ferir, o espaço a ferir e o progresso a ferir, com seu asfalto, sua poluição, seu concreto: a mais primitiva recordação da face animalesca do homem. A face real, visível.
A cor, as dimensões, as limitações... A vontade de pular, a impossibilidade de andar. A mudança total das possibilidades humanas, delineadas pelo acaso e delineando o futuro. E a história de cada ser humano se constrói, inexplicável...

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