sábado, outubro 16, 2004

É impossível para mim comprar algo para vestir sem chegar à triste conclusão de que algum dia ainda andarei nu e descalço por aí, tamanha é a minha estupefação com a falta de limites da indústria do consumo.
Não me refiro aqui àquelas excentricidades de milhares de dólares que os muito ricos compram em lojas luxuosas para exibir-se. A questão, na verdade, são aqueles estabelecimentos que atendem à classe média, abarrotados de produtos caríssimos cujo único mérito é possuir um nome conhecido, e que graças a isso conquistaram entre a população o status de qualidade e diferenciação.
Como alguém pode ser capaz, por exemplo, de pagar R$ 250,00 ou R$ 300,00 em um simples tênis, que não serve para mais nada senão calçar os pés e contribuir para o bem estar físico e a estética de um indivíduo? Antes, ainda: como chegamos a esse ponto em que empresas são capazes de elevar de forma absurda seus preços, apenas por contarem com uma poderosa grife, e fazem isso com a ampla compreensão e aceitação das pessoas, que não enxergam absurdo algum nessa situação que, analisada mais atentamente, revela-se um verdadeiro contra-senso?
Talvez eu devesse ser um dos mais aptos a responder a essa questão, dada a minha formação acadêmica, mas a verdade é que, além de qualquer explicação mercadológica de necessidades de consumo, técnicas de diferenciação de produtos, fortalecimento da marca, etc, o que me falta é o entendimento de como chegamos a tal nível de sacrifício, em que meros objetos são valorados de forma irreal, criando padrões de consumo insustentáveis em longo prazo para todos e, desde já, inacessíveis a tantos. O que me falta é também a tolerância para aceitar que podemos gastar o dinheiro que qualquer pessoa que trabalhe de verdade, nesse país, sua tanto para ganhar, enfim, uma quantia que compraria tanta comida e com a qual famílias sobrevivem durante o mês inteiro, em um simples calçado.
É quando vejo algo assim, então, que paro um pouco para tentar solidificar ainda mais a minha convicção de que tudo isso é um absurdo, de modo que, se algum dia eu chegar realmente a ser ainda mais parte dessa minoria capaz de consumir, eu lembre de quão estúpido é esse modo de vida em que ficamos submersos, às vezes.

2 comentários:

Anônimo disse...

é ....
é muito fácil SER COM o mundo!
difícil é SER NO mundo....

xêroooo

por Tamí

http://vilarejointimo.zip.net

fabio disse...

É, difícil, né? E ser PARA o mundo? Nem sei se é bom ou se é ruim ,mas que é muito difícil, ahhhh, isso é...
Bjo.