segunda-feira, outubro 18, 2004

...sessão descarrego...

“A vida tem seu jeito de nos ensinar...”

Relutei muito em escrever este post, mas há algo que precisa ficar bem reafirmado em algum lugar assim, visível, de fácil acesso para mim. Algumas coisas precisam ficar bem óbvias, explícitas, para não serem esquecidas.
É fato que em alguns momentos inevitavelmente nos perdemos. A primeira grande decepção pessoal a gente nunca esquece, e para mim, se deu há algum tempo atrás e foi do pior tipo: foi a decepção não por não ter atingido meus objetivos, mas por, ao atingi-los, perceber que em algum lugar, no meio do caminho, eles tinham perdido um pouco do seu sentido. Vai ver que foi aí que me perdi, quando desacreditei da idéia de que planejar, ter sonhos realizáveis, concretos e definidos em tempo e espaço era válido, e comecei a pensar que a vida era muito volátil para permitir qualquer meta, qualquer certeza ou direcionamento. Como diz uma personagem no filme mexicano “Amores brutos”: “Se queres fazer rir a Deus, conta-lhe teus planos.”
Um bom tempo se passou, afinal, e um pouco de maturidade talvez tenha sido somado às minhas parcas qualidades. A vida mostrou que é muito difícil, mesmo, saber que rumo os fatos tomarão e para onde seremos levados, uma vez que nosso bem estar - nossa paz de espírito, diria mesmo - depende de um sem-número de fatores... incontroláveis. Como um estalo, no entanto - ou melhor, não de forma assim tão brusca, mas como que num despertar, num instante de maior lucidez, em que uma névoa se dissipa e enxergamos melhor a verdade – percebi que mesmo quando frustrada, a ação nos leva a algum lugar. Nem sempre para onde esperamos, mas para algum lugar, sim, onde há o novo que nos espera... E é disso afinal que precisamos: do novo, da mudança, não aquela que nos atropela e nos deixa para trás, engolindo poeira, mas aquela que nós criamos intimamente, com o aprendizado, a disposição, o amor por nós mesmos e pelas possibilidades que podemos encontrar.
Assim, de espírito renovado por esse despertar afinal concretizado, sinto-me levado a planejar de novo, querer, sonhar com algo além da já tão difícil plenitude momentânea. É bom pensar o presente, celebrando cada hora, valorizando cada palavra que ouvimos, cada som, cada imagem, cada rosto amigo, cada beleza com a qual temos contato em um único minuto, o minuto do agora. Mas a individualidade é necessária - assim como a noção de que haverá, talvez, muitos minutos seguintes, e só nós podemos decidir o que faremos deles. E essa individualidade se constrói em convicções, em certezas íntimas, em algo maior que as circunstâncias. Quase como aquele amor que temos pelos nossos familiares, então, que independe de qualquer erro, qualquer mágoa, qualquer distância, assim acho que devemos também amar nossos princípios, nossos objetivos: independente de qualquer circunstância ou conjuntura que nos envolva, de qualquer falha ou desilusão. Porque a verdade é que, no fim, essa beleza momentânea, esses rostos amigos, essas palavras que ouvimos, essa música que escutamos, tudo pode ir embora, e é provável que o único elemento capaz de unir tantos instantes soltos ao longo de nossa existência não seja outro que não nós mesmos.
As pessoas vão embora, por motivos diversos. Algumas de forma mais suave, branda, simplesmente levadas por caminhos diferentes. Outras de forma abrupta, por meio de uma mágoa, um desinteresse repentino, uma ânsia de se desligar do que está ao redor e buscar outros semelhantes e outras histórias, ou, de forma mais trágica, deixando de existir entre nós. E a pior situação de todas deve ser encontrar-se com aquela sensação de que todos seguem adiante e você ficou pra trás, imutável, vendo todos ao longe e com um vazio impreenchível, tamanho o esvaziamento de qualquer resquício de ideais, tamanha a anulação, também, por meio da ingênua crença de que o bem e a satisfação estão sempre no ambiente externo, e nunca em si mesmo.
Essas palavras não são motivadas por uma ausência ou objetivo frustrado específico. Vêm antes da difícil avaliação que precisa às vezes ser feita, intimamente, de o que queremos ser, ou melhor, se seremos algo ou apenas um mero rascunho sempre alterável, de acordo com veleidades as mais variadas.
Vou citar ainda um outro filme (eles sempre me socorrem quando fico sem palavras).... Em “As horas”, uma personagem fala: “O que significa arrepender-se, quando não se tem escolha?” É assim que me sinto. Tudo o que faço e tenho feito é, no mínimo, honesto... Vem da espontaneidade, da vontade de ser verdadeiro comigo mesmo, da necessidade de acreditar que “essa vida, sem o amor, seria uma molecagem” (para não perder o hábito de citar Fernando Sabino).
Não é fácil preservar o amor-próprio nem a possibilidade de construir e de conciliar individualidade e a valorização do outro, evitando os extremos - o egoísmo ou a auto-anulação. Por isso escrevo: porque há dias em que a motivação nos some, o desânimo pesa, e quase que não podemos com aquele aperto, aquele nó que o medo nos impõe. E mais difícil ainda é agir e entender que essa ação nos leva, ao longo de dias ruins, ao encontro de momentos melhores. Por isso quero preservar esse instante em que tudo parece tão claro, em que tenho consciência do esforço necessário para corrigir posturas, para evitar atitudes impensadas que acabam fazendo mal. Por isso é que isto ficará escrito, mesmo que seja demasiadamente longo ou pessoal e, portanto, não desperte o interesse de muitos. É meu, reservo-me o direito a este espaço, nesse blog que tão necessário será ainda, para mim.

"Esse é só o começo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho, prepara uma avenida
que a gente vai passar"

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