segunda-feira, agosto 15, 2005

Everyone wants to be found

Domingo à noite, dia 07, após assistirmos ao filme “Sobre cafés e cigarros” – embora no meu caso, aqui, assistir ao filme tenha um sentido bem relativo – resolvemos seguir o caminho mais sugestivo e ir ao Burle Marx para, claro, tomar café. Dentre piadinhas infames do tipo “café forte é café com buchada”, conversamos, fumamos, rimos e ouvimos Billie Holliday. Quarta, em mais um dos nossos encontros boêmios “do bem”, Mari Durant (que por sinal já está concluindo a contagem regressiva para sua ida a Madrid) comentou que chegou a sua casa, naquele dia, e ainda ouviu alguém falar sobre Billie Holliday na televisão - e expressou sua admiração com a coincidência. Eu então disse algo que tantas vezes já ouvi: coincidências não existem. Claro, foi algo que falei mais por falar, apenas pelo prazer de dizer algo do tipo e assumir o ar grave de quem acredita em algo tão sério como a reta determinação dos fatos.
Também com Lavínia e Nathalia comentei a respeito de tudo o que tem assumido feições irrefutáveis: os ciclos, as coincidências, as ações conclusivas, a inevitável urgência dos fatos não mais ignorados e a atual ineficácia de qualquer paliativo para o que é impossível de se ignorar. Estamos todos juntos, nós que somos mais próximos e, no entanto, a alegria é incompleta. Conversamos e, no entanto, parece cada vez mais difícil saber o que acontece a cada um. O ceticismo, a aleatoriedade, o deus-dará não dão mais conta: a vida parece pedir reflexões, significados – e nos ensina.
Não se trata apenas de perder, de ter distante, de abandonar no passado, e é ruim pensar que talvez alguns entendam dessa forma. Porque não é perda: é apenas uma diluição que torna o intenso em incompleto, que transmuta o que nos rodeia de modo que, embora ainda em sua permanência aparente, nos incomoda como um corpo estranho, uma realidade morna e insuficiente, desfalcada e nova. É estar no meio de todos, em uma cidade nova, como quando fomos para São Bento do Una, por exemplo, com todas as possibilidades de divertimento, e ainda assim querer ir para casa, abatido de desgosto e desânimo. Ou ao menos, então, querer estar ali de verdade – e não como um corpo inerte que tem sua cabeça em um tempo suspenso, imaginário e irreal. Ou então é como quando se está sozinho e isso não significa nada: o aprendizado, a introspecção, as vontades, os planos, tudo zerado em pensamentos sem vontade. A unidade que prevalece nos instantes individuais parece vazia: ainda não se aprendeu a viver senão na soma.
Continuamos tomando as ruas, ainda, e talvez com a mesma freqüência. A diferença é que agora cada um parece estar em um tempo diferente, e essas novas realidades que vivemos nem sempre convergem. Por isso é que percebo alguns silêncios, faltas de assunto, comportamentos destoantes. E quando falo em nós, sei a quem me refiro e creio que quem ler estas linhas e me conhecer também entenderá facilmente. Tipo, como quando eu ligo pra Iarinha e ela imediatamente pergunta: “Onde vocês estão?” E eu fingindo que não entendo: “Como assim, Iara? Nós? Eu virei um monte de gente? Por que você acha que eu estou com alguém? A quem você se refere quando diz ‘nós’?” E ela então começa uma lista que abrange boa parte dos dez, quinze, às vezes até vinte nomes que costumam sair juntos, beber, conversar, rir, chorar – e na qual ela, claro, também está incluída. Nem sempre ela acerta; às vezes estou só mesmo. Mas ela tem razão: estamos todos quase sempre juntos. Temos essa oportunidade rara de sermos ‘nós’, ao invés de apenas ‘eu’, ou ‘eles’. E achando um, é até fácil achar os outros. Isso é precioso, com ou sem convergência de momentos. E, francamente, é também muito engraçado!

2 comentários:

Da Mata disse...

com ou sem convergência de momentos
espero encontrar todos e todas na próxima quarta (17/8 - niver de Luis) pra comemorar, beber, chorar a vida... rir de nós mesmos e filosofar... debater política e arte, fazer poesia e rir novamente! espero encontrar vc Balão e os demais também nas quintas, sextas, etc, pq é sempre tão engraçado! :)

fabio disse...

Oxe, é mesmo. Não dá pra esquecer, né? Tem aniversário de Luís, quarta. Com certeza beberemos, conversaremos, comemorando, rindo ate engasgar... hauhuahauahua. E se não tem motivo pra ta junto, tb, a gente inventa, né?
Ahhh.. reconheceu algo da nossa conversa no Tepan, aqui nesse post? Tem tudo a ver com o que falei ali...
Bjão, Natha.