quarta-feira, outubro 12, 2005

A palavra é vertigem. Fui ver no dicionário. Aurélio: edição velha, amarelecida, faltava a capa e também algumas folhas. Por sorte, a que hoje procurei estava lá: Vertigem sf. 1. Estado mórbido em que a pessoa tem a impressão de que tudo lhe gira em torno; tonteira. 2. Desmaio. 3. Desvario. Teria algo a ver com egocentrismo? Delírios? Mal estar físico? Hummm... tem a ver. Mas não é suficiente.
Ruth Rocha: dicionário que desavergonhadamente pedi à minha tia, professora da rede pública (espero que ela tenha conseguido outro, depois): Vertigem sf. 1. Tontura; desmaio. 2. Desvario; tentação súbita. Tentação súbita? Opa, isso já é diferente. Mas a isso eu chamo de outras coisas.
Creio que foi Milan Kundera quem disse algo que pra mim foi a expressão definitiva do significado deste vocábulo, e que resumiu, consigo, todo um estado de espírito que, de outro modo, demandaria centenas de palavras para que se esboçasse uma explicação, ainda assim frustrada. Então, vamos lá. Google: o destino de todos nós, nesses tempos pós-anos-2000. Dentre duas centenas de páginas, uma que parece transcrever exatamente o que lembro ter lido, há uns cinco anos atrás: "...vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É o vazio lá embaixo que nos chama e nos atrai, é o desejo da queda do qual nos defendemos aterrorizados". Ainda: “é a voz do vazio embaixo de nós, é a atração pela queda, é a embriaguez causada pela nossa própria fraqueza".
Vertigem é o desejo de cair. Quando você está no alto, prestes a despencar, não é o temor que você sente: a isso chamamos medo. Tampouco o sentimento de quem não tem mais forças para se segurar: seria isso apenas fraqueza. Vertigem, pois, seria algo como aqueles minutos em que, suspenso no ar, você por um minuto sente o impulso de afrouxar os dedos, soltar o único apoio, o único suporte que te protege, e deixar-se precipitar, de olhos fechados, rumo à conseqüência certa da sua queda. Quando, desacreditado de suas forças, sucumbindo ao medo que o apavora, você sente o impulso, por um instante irresistível, de desistir; antecipa tragicamente a previsão de que a queda é inevitável, de que o esforço machuca mais, ou que – na mais lamentável conclusão –, ele não vale a pena.
É então que você se surpreende com o fio tênue que ainda te mantém suspenso, meio sem chão, mas ainda a salvo. É então que te causa espanto o pouco que te segura da queda, que te afasta o desejo. E você se pergunta se é força, esperança ou o comodismo e a inércia que te fazem continuar se segurando...

Every time I rise I see you falling
Can you find me space inside your bleeding heart
Every time I rise I see you falling
Can you find me space
Find me space

It's in your reach
Concentrate
It's in your reach
Concentrate

Passive agressive, Placebo

2 comentários:

Da Mata disse...

isso me lembrou aquele verso do Caetano:

"A paixão não é mais do que o ato da gente ficar no ar antes do mergulho..."
Isso dá vertigem :)

fabio disse...

É... eu já li isso em algum lugar, e nao lembro onde... :p Mas na paixão, como tudo na vida, deve haver muita vertigem, mesmo. :p