domingo, agosto 08, 2004

Ele publicou muito pouco de seu trabalho, em vida. Dizem que por ser muito voltado para os outros, sempre, acabou por descuidar da própria obra. Não sei se há, realmente, tanto altruísmo em sua atuação. O que sei é que tudo o que ele escreveu, pelo menos o que já li - que, confesso, foi pouco - é interessantíssimo.
No entanto, digo que na verdade o que mais me interessa em Hélio Pellegrino é menos sua contribuição literária. Sem receios ou vergonha, digo que tenho um verdadeiro fascínio por sua vida, suas ações, seus valores e, acima de tudo, pela sua amizade com os escritores mineiros de sua época. (Aliás, posso dizer o mesmo também em relação à admiração que tenho por seu amigo, Fernando Sabino). Este apreço à sua vida pessoal não me parece um demérito, muito pelo contrário. Há intelectuais que admiramos por suas obras, artistas que nos impressionam com sua linguagem, sua arte, e há aquelas pessoas que admiramos apenas pelo que são, em essência: pessoas admiráveis, humanas, em tudo o que fazem em vida.
Hélio escrevia de forma surpreendente, instigadora, inusitada, polêmica. Talvez, então, pareça estranho valorizar mais sua existência pessoal, tão íntima e certamente sem pretensão de tornar-se objeto de admiração pública, que suas obras. Mas reafirmo que Hélio é como uma daquelas pessoas nas quais se descobre na simplicidade de sua vivência diária lições que artigo, romance ou tese nenhuma é capaz de transmitir. E é em suas cartas, seus ensaios, e em tantas reportagens, depoimentos, biografias e coletâneas que desvendamos um pouco dessa sua vivência.
Que ele seja, então, uma referência, não apenas de psicanalista, poeta, ensaísta, militante de esquerda ou polemista que foi, mas de ser humano, daquela qualidade rara que consegue transmitir, não apenas com suas palavras, mas também, e principalmente, com sua vida e suas ações, sua contagiante paixão pelo mundo e pelos seres humanos.

Lucidez embriagada. Um belo presente da Editora Planeta.


P.S. Estive vendo o blog da neta do Hélio Pellegrino, Antônia Pellegrino, que organizou o livro. Cheguei lá depois de ler uma reportagem sobre ele. Não li muita coisa ainda, mas parece ser bem legal. Ela, inclusive, faz uns comentários hilários a respeito do orkut. Identifiquei-me totalmente quando ela fala da resistência a entrar, do "anti-corpus-anti-orkut". Se bem que acho que, assim como ela, também irei sucumbir. :p
Bom, estou bastante envergonhado... Ainda não tinha colocado nenhum link para outro blog aqui (até mesmo porque a preguiça me fez não mexer ainda no template pra botar os links daqueles blogs que acho que valem a pena ler sempre), mas enfim... Chama-se www.invejadegato.blogger.com.br. Dêem uma olhada; eu depois também lerei com mais calma.


Para ouvir: Sigur Rós - ( )

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