É impressionante como a boa música latina nos transmite uma sensação indescritível de paixão, alegria, e um sentimento de que algo de inesperado pode acontecer a qualquer momento, como se, sem motivo aparente, uma melodia nos despertasse para a beleza da simplicidade e para o inusitado da vida... Parece viagem? Não para quem já ouviu Buena Vista Social Club. Sobre o documentário a respeito deste grupo que reuniu nomes consagrados e, infelizmente, até então esquecidos da música cubana, não há muito a comentar. Como cinema, não é nada demais. Realizado por Win Wenders, diretor alemão, consiste basicamente em intercalar o registro de dois shows do grupo (um deles no Carnegie Hall) com depoimentos de cada membro abordando temas não muito originais, como “quem sou”, “quando e onde nasci” e “como a música começou a fazer parte da minha vida”... O que torna este documentário tão especial é, particularmente, a presença de seres humanos surpreendentes como Rubén González, Compay Segundo e Ibrahim Ferrer, dentre outros. Seus depoimentos são emocionantes e rendem alguns momentos antológicos, como aquele em que Compay Segundo, na época com 91 anos e falecido recentemente, conta que aos cinco anos já acendia o charuto para sua avó, o que o levou a afirmar que fumava há 85 anos! Os charutos, aliás, são presença marcante no filme, assim como os carros antigos, o mar e as ruas de Cuba, com toda sua agitação e efervescência. Chamam também a atenção os símbolos que lembram a revolução, como inscrições nos muros ou a foto de Che na camisa de uma transeunte. O contraponto fica por conta dos bonecos de personagens do desenho animado Toy Story em uma casa e pelo encantamento dos músicos com os prédios e avenidas de Nova York. Na verdade, é impossível não refletir sobre a questão social e política em Cuba, e o encantamento causado pela “grandiosidade” desta cidade americana só contribui para reacender os questionamentos sobre a noção de desenvolvimento que cada um de nós temos. São inegáveis os problemas econômicos de Cuba, assim como a dificuldade de acesso de sua população às chamadas inovações tecnológicas. No entanto, não podemos negar, também, que a noção americana de progresso tem-se revelado, mais que nunca, uma ilusão...
quarta-feira, junho 09, 2004
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