terça-feira, setembro 21, 2004

“Não és bom nem és mal, és triste e humano.”
Olavo Bilac

Uma poesia minimalista - visual e auditiva - para aguçar os sentidos. Não há melhor forma de se definir o filme exibido no último dia 09 pelo Cine Peter Dráckula. Aproveitando a temática latina da última calourada, que teve o sugestivo nome de Cuba Cabe Aqui, o cineclube da nossa faculdade decidiu ir mais fundo na investigação do peculiar cotidiano dos moradores dessa fascinante ilha que provoca debates, conquista admiradores e atiça os ânimos daqueles que se propõem a avaliar, politicamente, sua realidade.
O que se viu, no entanto, esteve muito longe da exaltação apaixonada do regime de Fidel Castro, dos líderes revolucionários e dos ideais representados pela resistência cubana, ainda um dos poucos países a manter uma postura contrária à lógica estadunidense de poder e “crescimento”. Não houve, também, a construção de uma imagem anacrônica da ilha - o que poderia representar uma acusação velada de um suposto modo de vida estagnado, atribuído por muitos a ideologias insistentemente caracterizadas como ultrapassadas - nem tampouco uma tentativa de descredibilizar a luta de seu povo por meio do ressalto de suas mazelas ou de suas dificuldades econômicas e sociais.
Isto porque, antes de tudo, em Suite Habana o diretor Fernando Pérez nos apresenta a habaneros comuns, de modo que sua sensibilidade e delicadeza espantosas nos permitem elevar o nível da nossa apreciação desse povo, desprovendo-nos de preconceitos, esquematismos ou paradigmas políticos. Assim, somos capazes de desfrutar de um retrato magnificamente humano (e talvez poucas vezes antes presenciado na sétima arte), de pessoas simples, seus sonhos, suas dificuldades, suas rotinas, suas atividades e todos os acontecimentos ordinários que permeiam suas vidas, sem, no entanto, serem de modo algum considerados banais, irrelevantes ou sem sentido.
Tal documentário, longe de ser chato ou difícil, nos apresenta uma sucessão de belíssimas imagens, costuradas pela lógica do tempo (o filme se desenvolve ao longo de um dia), unidas pela dinâmica da coletividade (as cores e sons urbanos) e marcadas pela realidade social e histórica do que apresentam. A ausência de diálogos, narração ou entrevistas contribui, curiosamente, para facilitar nossa identificação com cada uma das pessoas retratadas. No silêncio, distanciamo-nos de possíveis julgamentos, contemplando apenas a beleza e a poesia de ser humano.
Engana-se, no entanto, quem acredita que, retratando Havana de forma tão honesta e dotando seu filme de uma curiosidade artística tão universal, o diretor nega as peculiaridades de seu país. Fernando Pérez é honesto com cada cidadão de Cuba, com sua paixão, sua beleza, suas dificuldades. Sua mensagem está lá, sutil, na ressaca do mar que avança sobre a ilha, no retrato de um herói na parede (parecendo ora distante, ora integrado à realidade que presenciamos) e, acima de tudo, na simbólica e comovente cena da garota que balança alegremente a bandeira de seu país, que aparece ludicamente em meio a uma brincadeira infantil.

Texto escrito após a sessão do cineclube da FCAP, para o Informativo do DA, o Olha só...

2 comentários:

Da Mata disse...

Ficou massa balão! Precisa ir integralmente para o informativo do D.A.
Saudações!

fabio disse...

Aee, Natha... Valeu! Ó, parabéns pelo blog, viu? Tá muito massa... depois comento lá! bjo