Às vezes penso a respeito da grande quantidade de sentimentos bons que temos e guardamos para nós... Mesmo que quase sempre não revelados, não discutidos nem exteriorizados, os mantemos conosco e eles, aos poucos, nos trazem vitalidade, nos confortam e norteiam nossos valores... Lembrei recentemente que, logo que cheguei em Recife, pouco tempo depois uma pessoa que conheci (da família do meu cunhado) me disse algo como “veja como são as coisas: eu gostei de você assim, ‘de graça’....” Ele se referia ao fato de ter acabado de me conhecer mas já ter “simpatizado comigo”, apesar de eu nem sequer ter dado muitas razões para isso... Pois é, essas coisas são engraçadas, mesmo. Tem um monte de gente que eu também gostei “de graça”, quer dizer, sem nenhuma justificativa aparente... Algumas realmente passaram a fazer parte da minha vida, outras até hoje nem sei porque gosto, só sei que gosto, e no fim das contas mal as conheço, acho...
Bom, assim como o valor que damos às pessoas não se explica racionalmente, do mesmo modo os momentos em que esta relação de admiração, afeto e proximidade se fortalece tampouco podem ser entendidos... Na maioria das vezes, é em pequenos fatos de importância quase imperceptível que reconhecemos a dimensão desse afeto... Mais ou menos como num texto bem simples que gosto muito, na verdade o fragmento de uma carta de Fernando Sabino a Hélio Pellegrino, do livro Cartas na mesa, em que este fala da importância da amizade dos dois (gostaria de colocar a carta toda aqui, mas é muito grande e ninguém leria, e além do mais dá preguiça digitar tudo :P):
“Hélio, somos quatro e aqui estou perto de você, como numa noite sentados no meio-fio da Av. Bias Fortes, lembra? Como aquela cervejinha do Bar Cinelândia, a conversa entre nós dois, o Paulo e o Otto pairando. Tive pena de você um dia na casa do Eloy, achei você tão triste, você não sabia. Te admirei naquele dia do Parque em que treinamos um discurso perto do lago, achei você senhor de mundos e fundos, de estrelas e potestades como eu não era capaz. Tive vontade de dizer e não disse que te estimava feito um irmão naquele dia em sua casa que você me mostrou o artigo sobre os católicos. Achei que você era esse irmão, no dia em que me ajudou a sair da Igreja do Santo Antônio, quando eu havia sido operado – não falei nada.”
Rio, 07/06/45
Aos que eu vi passando longe, em minha viagem, e não pude ou consegui falar, fiquei só na saudade; àquela que eu poderia procurar e não procurei, mas acho que vi; aos que nem passam ao longe, mais, sumiram de vez; e aos que estão perto: em bares, em praças, em casas de conhecidos, na hora da cervejinha, cada bom sentimento de fraternidade e afeto valeu a pena...
P.S. Eu pretendo, sim, falar de outras coisas que não sentimentos, viagens, letras de música ou “os quatro mineiros do apocalipse”, aqui. Algum dia eu escrevo sobre outra coisa... :p
Pra ouvir:
I love NYE – Badly Drawn Boy
Silent sigh – Badly Drawn Boy
terça-feira, julho 06, 2004
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário