quarta-feira, julho 14, 2004

Músicas...

Cada uma tem a capacidade de absorver a sensação, o estado de espírito ou a atmosfera de um lugar, naquele exato momento em que a ouvimos... Posteriormente, escutando-as novamente, relembramos tudo, e estas nos despertam saudade, alegria, mágoa, tristeza... Há aquelas que creio que nunca esquecerei, e não importa quantas vezes as ouça, sempre recordo cada sentimento, cada diálogo, cada pessoa que integrou aquele momento, não um instante específico, delineado por um certo período cronológico, mas aquele em que algo acontece, e às vezes apenas depois, em retrospectiva, podemos percebê-lo claramente.
Depois de algum tempo, tenho ouvido bastante, novamente, uma música que já pontuou dias importantes e conversas cegas, e carrega consigo muito desse tempo: A case of you, de Joni Mitchell, quando a vida mostrava-se cíclica e outra mudança chegava pra pegar-me desprevenido... Uma mudança sutil, percebida mais nos outros que em mim próprio, e o medo de ficar pra trás, imutável, dependente, reclamando o velho estado de coisas que não mais se sustentava... Uma melancolia profunda, acompanhada de euforia, e toda a confusão que a combinação desses dois sentimentos podia causar...
De nada adiantaria colocar aqui a letra, dizer que é isso mesmo, o que ela fala diz muito pra mim... Não diz! Na verdade, quase nada tem a ver comigo... Mas eu a ouvi e ela ficou, e o que naquele momento deixava-se um pouco pra trás hoje me traz saudade, mas uma saudade boa por se saber vivendo e perceber algo bom que pôde ser vivenciado... Não algo concreto, e sim um instante prolongado que justificou muito do que veio depois. A idéia de ciclos que se encerram e iniciam está de volta, depois de alguns meses, e a música parece que veio junto... Mas se momentos assim não se repetissem, então não haveria ciclos, afinal.
E existem, realmente?

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