A simbologia natalina surge como um elemento que se soma ao acúmulo de indícios de um final de ciclo que culmina no reveillon. Sim, porque se não sou religioso, mantenho minha crença no calendário cristão-ocidental e penso a minha vida em anos, embora esses anos nem sempre terminem em 31 de dezembro e comecem no dia 01 de janeiro. (O ano passado, por exemplo, começou em março, e o meu 2008, tal como o vivi até então, suspeito que tenha terminado no dia 29 de novembro, quando a pós teve um churrasco de confraternização que me pareceu também de despedida e Lavínia fez, no mesmo dia, o que anunciou como a última – pelo menos por enquanto – das muitas e já célebres farras no seu apartamento).
De repente é isso que está em jogo nesse natal: uma série de despedidas, últimas vezes, conclusões e também de mudanças significativas nos termos em que os afetos e as amizades são vividos e sonhados cotidianamente. Série que, em contrapartida, não viu ainda o anúncio de nenhuma estréia – embora os mais otimistas não percam tempo em lembrar que estaríamos sempre começando.
Mas é a necessidade de inventar estes tais começos aquilo em que eu sempre acreditei. É a sua natureza inventada – e, como tal, nem um pouco espontânea – o que fica mais claro justamente durante esses tais períodos festivos. Indo mais longe, é na própria necessidade de construir climas, arquitetar humores e contextos propícios para inspirar a invenção de planos e mudanças que eu de fato acredito. Os mais empolgadinhos podem não entender, mas é que eu não nasci com uma disposição inextinguível para a vida: ou eu me cobro essa procura por algo interessante, por uma motivação que ocupe minhas horas, ou eu começo a achar tudo irremediavelmente tedioso.
Em 2002, quando eu tinha começado a estagiar e, portanto, não podia viajar no natal, eu ficava em um momento drama ouvindo Joni Mitchell (“I wish I had a river I could skate away on...”) e achando ruim não poder visitar minha família. Acho que é porque eu me sentia ainda muito sozinho em Recife, na época, e a ceia em casa foi a minha melhor fantasia de compreensão e acolhimento perdidos cuja perda eu poderia lamentar. Hoje eu vejo que não me sensibilizam muito, afinal, essas pequenas ocasiões familiares. Um dia, provavelmente. Por enquanto, para além do ritual, o que me interessa é onde, com quem e em que circunstâncias eu estabeleço esse marco que é o fim e o início de qualquer coisa. Mais ainda, interessa-me que as circunstâncias sempre mudem, assim como as pessoas, os lugares. Se em algum momento a gente sempre precisa estabelecer cegamente um valor capaz de reger nossas escolhas, há tempos eu já optei pela mobilidade: pra não criar lodo e talvez porque, como está todo mundo sempre passando, saindo, chegando, antecipar um movimento é sempre uma forma de não ficar para trás.
Essa fantasia de passagem e esse modo de vida precário, mesmo quando o dia-a-dia denuncia certa fixidez e conforto, são a recorrência de um clima propício, um humor inventado, uma subjetividade mais que um conjunto de ações concretas, uma iminência de partir, uma forma transitória de perceber os encontros e transformar isso em afeto (“I drew a map of Canadá, Oh Canadá!, With your face sketched on it twice...”), história que se conta e, ao ser contada, ganha sentido.
Para ouvir (Isso de postar músicas aprendi com Aninha :p):
3 comentários:
http://fr.youtube.com/watch?v=ie0lJ1QCHZ4&feature=related
http://fr.youtube.com/watch?v=YBPcoI4OE9Y&feature=related
bonzäo com as musiquinhas, né?!
meu reveillon vai ser na quarta feira de cinzas... =)
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