terça-feira, setembro 09, 2008
esse melancólico in-between
Eu garimpo algumas novas músicas, leio umas páginas, vou à biblioteca (da católica), como um biscoito assim meio escondido, no canto, vejo os rostos no ônibus, tento controlar (sem sucesso!) o meu horário, passo as madrugadas em claro, acordo tarde, acordo cedo, não durmo, durmo demais, pesquiso novas atividades, prometo não me matricular, prometo não pisar na federal (mas nem sempre cumpro), prometo não gastar mais nada, tenho preguiça da internet, passo horas na internet, durmo em silêncio mas passo a noite ouvindo uma música, a mesma que quando acordo ainda está comigo, conto palavras, monto e remonto parágrafos, tomo mais um chá preto pra despertar, reclamo da insônia, perco mais um quilo, escuto aquela banda que me recomendaram, acho boa, volto pros Smiths, acumulo filmes, planejo (não) ir ao cinema, flerto com crenças obscuras, sugiro encontros, marco, desmarco, transfiro horários, digo que vou começar a yoga, bebo pra caralho e chego mais uma vez em casa de manhã, ensaio novos planos, não me encaixo em nada, pergunto se só eu estou sozinho nesse eterno interstício, evito ver pessoas (cruzando corredores e pátios com cara de psicótico), espero encontrar aquelas tais tantas outras pessoas, faço milhares de ligações, desligo o telefone, não consigo acessar mais que meia dúzia de páginas em toda a wide web (sempre as mesmas, só lembro delas), descubro que estou velho pra isso e praquilo, ainda sou novo demais praquilo outro, sinto que estou irremediavelmente fora da roda dos sem cena que estão na cena, dou graças a deus, reclamo que estou deslocado, sinto a atmosfera meio old-fashioned dos jovens sem perspectiva (eu já não tão jovem e ainda supostamente cheio de perspectativas), leio mais um capítulo do inacabável Cortázar, saio à rua, olho os rostos no ônibus, olho os rostos na rua e lembro que como diria ele: “no fundo não há otherness, apenas a agradável togetherness”, mas não nos falamos pelos caminhos, embora às vezes sinta que também sou observado, aí penso em encontros mudos com conhecidos, desconhecidos (e a verdade é que quase nunca nos comunicamos de fato), volto para casa e de noite é aquela mesma musica (“That silent sense of content/ That everyone gets/ Just disappears soon as the sun sets…”), e muitas outras, mas ainda pensando que ao menos quem sabe em alguns lugares não haveria pessoas sentindo também esse melancólico in-between...
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