Acabo de ver Nome próprio, de Murilo Salles, e se tivesse que resumir em uma linha a minha opinião, diria: filme legal, literatura ruim.
Não posso opinar a respeito dos livros da Clarah Averbuck pois não os li, mas pelo que já conheço do seu blog, posso dizer que achei seus textos bem fraquinhos. Sinceramente, acho seu tom confessional-adolescente bastante cliché, pueril até. Também acho um pouco irritante essa sua irritação (sim, deve ser algum tipo de efeito de contágio) com a idéia de ser asssociada a uma literatura blogueira. Tudo bem que deve ser mesmo um saco ter que ficar o tempo todo falando em nome de um tal "fenômeno da blogosfera" (e convenhamos, que assuntinho mais fora de moda esse), mas a impressão que fica para mim é que tal irritação se deve muito mais a uma noção implícita de rebaixamento existente no atrelamento da denominação de blogueiro(a) à de escritor(a).
Tudo bem, concordo que blog é antes de tudo um suporte. Exemplo mais óbvio é o fato de existirem blogs dos mais diversos tipos: de crítica cultural, de esportes, de gastronomia e também, claro, de literatura. (Tem até os blogs sobre nada, como o deste que vos escreve, ou seja, os blogs anotações-do- crioulo-doido-que-pensa-com-os-dedos-no-teclado). Mas essa coisa de bater o pé e dizer que livro é livro e não tem nada ver com blog, como se o modo de escrever, o estilo, as referências e o universo temático fossem diferentes e não permeassem a escrita de ambos, soa mais a uma ânsia de reconhecimento como Literatura (assim com L maiúsculo). E convenhamos: se como blog o texto já deixa a desejar, que dirá então como "alta literatura".
Enfim... Mesmo com temática tão limitada, Salles consegue tornar o filme na maior parte do tempo algo envolvente, gerando uma certa identificação no espectador, mesmo a partir de um universo tão auto-centrado - e com dilemas muitas vezes tão triviais. Isso porque o filme consegue o que a escrita da autora não chega a fazer: a partir de acontecimentos próximos e experiências vividas - elementos que, em maior ou menor grau, pode-se dizer que compõem o substrato de praticamente toda literatura - consegue dar um salto rumo a um conjunto de questões e sentimentos que ultrapassam a limitada esfera individual e localizada dos fatos.
E é exatamente por isso que, na minha opinião, o filme tem seus momentos mais problemáticos justamente quando a narração apresenta passagens dos textos elaborados pela personagem principal, Camila (alterego da escritora). Ao delegar o relato à sua fonte, o texto escrito, o filme sucumbe às deficiências deste, quando tal revêrencia nem seria necessária - afinal, o filme é apenas uma adaptação livre, como a escritora fez tanta questão de ressaltar, afirmando que o filme não era dela - o livro sim (ver no blog oficial do filme aqui). De fato, o filme não é dela, nem é unicamente do diretor, e talvez por isso tenha funcionado. É coletivo, claro, (afirmação óbvia!) e dentre as contribuições que se somam em sua realização, está a de Leandra Leal, linda e se garantindo muito na atuação.
Mas voltando ao diretor: este ainda tem fôlego para contornar boa parte dos problemas, inclusive este de como inserir a instância da escrita, ponto de partida da obra, no seu universo audiovisual. No filme, as palavras são signos que se desdobram na tela, sobrepõem-se aos planos, inscrevem-se no chão, nas paredes, nos corpos. Salles, então, é quem parece resolver melhor a questão do suporte postulando que, quando a escritura se constitui como veículo para afirmação da vida, energia criadora, não se faz tão necessário diferenciar livro, diário, blog, filme, carta, etc., porque a palavra transborda todas estas instâncias, e tudo está impregnado de sentidos inventados ou ressignificados pelo ato de escrever a própria história, de ficcionalizar a experiência.
terça-feira, julho 01, 2008
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