Eu gosto de ficar espreitando as coisas, para esperar que elas aconteçam. É um erro, eu sei. Em todos os aspectos. Mais fácil seria ficar despreparado, fazer-se de desentendido, como quem não está vendo, como quem mal sabe que algo pode acontecer, lalalala... Mas que posso fazer se eu, sempre em vigília – embora ao mesmo tempo, contraditoriamente distraído – estou sempre esmiuçando tudo, escondendo-me nos cantos, pronto para armar o flagra – ahá! – que, no entanto, nem sempre acontece...
Mas, quando se realiza, que discreto prazer nos dá! Até as coisas mais insignificantes, quando acompanhadas desde seu vir-a-ser até o posterior e merecido esquecimento, e quando percebidas em todos os seus detalhes, têm sua graça: um comentário, uma mensagem qualquer, um encontro entre terceiros do qual não participo - quando descobertos não com ajuda do pressentimento, mas pelo puro esforço incansável e doentio de desvendar a ação obscura dos fatos e revelá-los. Na verdade, qualquer insight ou manifestação de sexto sentido se chamaria outra coisa; teria outra graça e outro mérito. Que fique claro, então: o sucesso de um observador obsessivamente atento, é disso que falo agora.
No entanto, como falei em contradição, reafirmo agora que o paradoxo está posto: ansioso pelo tecido de ações que vai descobrir, o observador acaba por cair em delírio fantasioso, sonhando com o que vai encontrar. Eis quando a surpresa dá a volta e o pega desprevenido, mostrando-se, como sempre, muito diferente. Ridicularizado, então, fica o observador desatento e suas manias. Bem feito. Normal é que isso não é...
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