A primeira delas eu tirava de forma um pouco espantada, depois de tropeçar em muitos obstáculos sob meus pés meio descontrolados. A outra eu descobria grudada ao meu olho direito e sabia que precisava de algum líquido especial, que não possuía em mãos, para removê-la. O desespero ficava maior à medida que aquele objeto estranho ao meu corpo ia se mostrando mais e mais cravado, denunciando uma presença alheia a mim, marca de uma adesão tão minúscula quanto persistente. A situação que só piorava finalmente se resolveu quando, com movimentos já bastante agressivos, ataquei meus olhos com um grande jato d’água que sei lá de onde veio.
Essa imagem meio simplória eu supus que fosse esmaecendo ao longo do dia, perdendo importância até fugir da memória, como geralmente são os sonhos que, no instante em que despertamos, parecem muito graves e depois se revelam uma tolice. Mas a imagem não sumiu e depois de um tempo começou a me parecer bastante significativa: o sinal de um incômodo que, aparentemente banal, impõe-se e me desestabiliza com um transtorno que é imperceptível aos olhos desobstruídos dos demais.
Só sei que acordei com uma irritação terrível nos olhos.
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