terça-feira, janeiro 01, 2008

a forma decadente pós-réveillon

Talvez uma convenção tão certa quanto aquela de que a passagem do dia 31/12 ao 01/01 representa uma mudança tal que justifique planos, votos e abraços é a de que tudo o que é desejado ardorosamente para o ano seguinte só conta mesmo a partir do dia 02. Certamente essa convenção é bem mais velada, subentendida, mas não menos forte. O pé direito com que nos dizem que devemos entrar no ano novo provavelmente deve ser o mesmo que dá esse pulo enorme com o qual chegamos ao dia 02 no mesmo tom de começo, relegando o primeiro dia do ano a um mero intervalo não-computado na nossa narrativa de renovação.

Ressaca, estados de enfermidade aguda, corpos debilitados, cara amassada, fome sem vontade de comer, - e, claro, para alguns, um certo remorso ou ressaca moral pelos exageros permitidos pela felicidade explosiva do dia anterior - tudo isso, salvo engano, não parece rimar muito com os discursos do momento exatamente anterior, com a imagem triunfante das pessoas, a aura imaculada, brilhosa e pipocante refletindo os fogos de artifício do réveillon. Chega a ser engraçado: todos esbanjando glamour, riqueza, ostentação e alto potencial de sociabilidade, como numa vinheta da Globo, para no outro dia acordar com o que provavelmente será a pior cara dos seus 365 dias de pura novidade prometidos em meio à euforia.

Entre as bolhinhas de champanhe e o chiado do sonridor no copo às vezes há apenas algumas horas.

Claro que a festa de réveillon tem sua parte bonita e interessante. Eu mesmo tive uma ótima passagem este ano com a família de uma amiga que me permitiu estar presente e compartilhar esse momento intimista de celebração caseira. Foi simples, divertido e acolhedor. Se escrevo neste tom ranzinza é porque estou em pleno dia 01 e, como para todos os outros, minhas promessas de felicidade e moderação só valem mesmo a partir de amanhã. E se a virada foi assim agradável, eu também estiquei minha comemoração um pouco mais do que deveria, chegando em casa apenas às seis da manhã depois de algum tempo de mofo total na decadente rua da moeda, que é onde no final das contas eu sempre vou parar, por alguma predestinação cósmica. Some of us never learn!

Este ano, no entanto, juro que sou inocente. Devido ao remédio infame que estou tomando, me permiti tomar apenas umas três taças de vinho, jurando que um prêmio mais do que merecido depois de tantos meses de abstinência jamais me faria mal. Obviamente, as coisas não correram deste modo, e acordei parecendo o Mumm-Ra antes da transformação (alguém aí lembra dos Thundercats?). Quer dizer, Mumm-Ra ao menos conseguia andar com uma certa desenvoltura; eu, por outro lado, só agora no fim da tarde consegui levantar da cama (que mais parecia um gavetão do IML). Mas eis que o presunto ressuscitou para atualizar o blog neste fim de tarde...

Então é isto: eu tinha programado uma espécie de retrospectiva de algumas histórias que andaram assombrando o blog durante o ano, como uma espécie de saldão 2007. Sei que é ridículo, mas eu queria e pronto. Mas isso fica para outro dia, assim como a busca de uma nova imagem aí pro topo - afinal, faz tempo que o conteúdo, o tom e tudo o mais do que escrevo aqui não combinam nem um pouco com a foto do Jean-Pierre Léaud no Les quatre cents coups... Bom, fica pra depois, porque agora eu vou voltar pra minha tumba. Amanhã tudo será diferente, acordarei renovado e forte (serei o de vida eternaaaaaa).

5 comentários:

Anônimo disse...

my loveeeeeeeeee
tu me mata de rir peste!
ahushaushausausaushaush
oh muuu-ra do coração.. v se melhora tá?!

e amanha começa o retiro espiritual!

xero pa tu

Anônimo disse...

feliz 2008, muuum-rá!

Anônimo disse...

Fábio!!! :***** Adorei seu primeiro post de 2008!! :P hahah Adoro esse teu humor! Um 2008 de muitas comédias, dramas e aventuras pra tu! :D hahah Beijão!!

Da Mata disse...

vc fez a melhor descrição do meu dia 2. ;)
bju.

Anônimo disse...

hauahuahauahau.Agora participe da enquete: quem foi o verdadeiro vilão do reveillon? bjinho