Andando por lá eu lembrei que uma das coisas que muito me agradam naquela terra é que praticamente em qualquer um dos pontos da cidade se pode olhar para o horizonte e ver as serras que cercam a região. E engraçado é que eu só comecei a reparar nisso depois de um tempo, quando comecei a dar mais valor a essas coisas que acontecem quando a gente muda o olhar – jogando-o pra frente, pra fora, pra cima.
Claro, olhar pra frente sempre ajudar a enxergar melhor certas coisas que vão um pouco além das nossas fuças.
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Também nessa história de olhar é que eu fiquei mais uma vez com a impressão de que as fachadas das casas são sempre muito parecidas, de como é curioso que depois de tantos anos elas ainda me parecessem estranhas e que, olhando-as isoladamente, – em uma fotografia, por exemplo, ou sem ter seguido com os olhos o caminho percorrido para saber onde se encontram – eu provavelmente não saberia dizer a que rua ou bairro pertencem.
Dessa vez, no entanto, reparei em algo surpreendente para quem viveu por lá durante dezessete anos (mais algumas visitas permeando os outros percursos iniciados depois): das calçadas eu me lembro, claramente! Fui andando e pensando: “por aqui vivia aquela menina da escola. Mas onde? Todas as casas parecem iguais...” Só no tracejado das calçadas eu achava: um canto de parede, uma grade de ferro, uma calçada de um certo jeito, elevada, e o esgoto margeando – “opa, é esta!” Foi aí que percebi que devo ter passado mesmo muito tempo da minha vida observando o caminho dos pés, olhando pra dentro. Os desenhos das calçadas, conheço-os todos, e se é verdade que me perderia observando casas, horizontes e ruas, digo por outro lado que, pelos traços dos caminhos, certos buracos, falhas, elevações, variações de mosaicos e cores, eu sempre me acho; recupero algumas andanças e relembro outros dias.
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Essa foi engraçada! Bom, minha avó é feirante, trabalha aos sábados e segundas em duas cidades distintas, próximas à nossa, vendendo suas coisas – coisas meio de interior mesmo, muitas delas Made in Caruaru. Pois bem, disso eu sempre soube, e tenho ótimas lembranças dos dias em que cheguei a acompanhá-la no que na época eram verdadeiras aventuras: acordar às 3h30(!!) da manhã, o cheiro do café, pegar o caminhão às 4h30, montar a banca, o almoço, as pessoas, as conversas... Pois bem, o que eu nunca soube é que em uma dessas cidades – cuja feira acontece aos sábados – a banca da minha avó ficava na frente do necrotério. E agora nem lembro... Como soube disso? Ah, sim, era algo como uma conversa sobre a necessidade de não apenas estudar com afinco, mas de realmente se esforçar para que as coisas aconteçam – conselhos importantes que sempre recebo. Minha avó se admirava de como sempre havia estudantes e médicos cubanos que se picavam lá de Cuba pras nossas bandas só pra ver os defuntos fresquinhos. “Coisa de quem se interessa mesmo, né?” Ela, por outro lado, nunca precisou se esforçar muito: sempre podia ver ali pertinho os que chegavam aos sábados – ia olhar todos!
Disso eu juro que nunca soube. Bom, acho que deveria ouvir mais as histórias da minha família...
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