“Nas formas primitivas da sociedade, quando a maioria dos indivíduos vivia em dependência da terra de onde tiravam a própria subsistência, a experiência do fluxo do tempo estava estreitamente ligada aos ritmos naturais das estações e ao ciclo do nascimento e da morte. À medida que os indivíduos foram gradualmente sendo atraídos por um sistema de trabalho fabril e urbano, a experiência do fluxo do tempo foi se associando cada vez mais aos mecanismos de observância do tempo em sincronização com as horas de trabalho e com a organização dos dias da semana. Logo que o tempo começou a ser disciplinado pelos objetivos de aumentar a produção das mercadorias, houve uma certa troca: os sacrifícios feitos no presente eram trocados pela promessa de um futuro melhor. A noção de progresso, elaborada pelas filosofias iluministas da história e pelas teorias sociais da evolução, foi sendo experimentada no dia-a-dia da vida como o enorme hiato entre a experiência passada e presente de um lado, e os horizontes continuamente mutáveis das expectativas associadas ao futuro, de outro.
A experiência do fluxo do tempo pode estar mudando hoje. À medida que o passo da vida se acelera, a terra prometida para o futuro não se torna mais próxima. Os horizontes das expectativas sempre incertas começam a desmoronar, à medida que vão se encontrando com um futuro que continuamente fica aquém das expectativas do passado e do presente. Torna-se cada vez mais difícil persistir numa concepção linear da história como progresso. A idéia de progresso é um modo de colonizar o futuro, é uma maneira de subordinar o futuro aos nossos planos e expectativas presentes. Mas à medida que as deficiências desta estratégia se tornam mais claras dia após dia, e o futuro repetidamente confunde nossos planos e expectativas, a idéia de progresso começa a perder força entre nós.”
John B. Thompson. A mídia e a modernidade – Uma teoria social da mídia.
sábado, fevereiro 04, 2006
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