Silenciosamente
Como se não se pudesse perceber. Quase um fingir, naquele sentimento de que somos ainda próximos – assim como a convivência virando lentamente o consolo da presença futura, o acreditar-se presente, pra tão logo tornar-se o sumiço que só se nota na falta casual de qualquer movimento.
O conhecimento dos fatos vividos, de cada resquício de experiência mentalmente compartilhada, quando vivíamos juntos, mesmo na ausência. O riso era compartilhado, o medo era amparado no apoio, no saber-se ligado, e o choro era sempre contido por uma mão, um olhar, um quieto e mudo estar ao lado, em uma atitude de apenas “ser” em comum – e o sentir-se “sendo”, já, a felicidade e o consolo de não “ser” sozinho.
Tudo aprendido, vivido, repartido, indivisivelmente múltiplo, em existências que, mesmo por poucos momentos, unem-se, tornando-se muito mais que uma, duas ou três, em uma síntese que supera a simples soma. Porque é na outra palavra que me encontro, na outra certeza que me firmo, no sorriso estampado à frente que me alegro, em indescritível comoção que transborda. Porque nos dentes que me sorriem está o sentido, e não sou mais sozinho nesta felicidade esgarçada de momento.
Nessa intensidade dói a simples ameaça da não-proximidade, a necessidade da distância: um futuro tão mais ameaçador quanto gradativo, concretizando-se em sutileza que anula qualquer tentativa de evitar. Distância diluída em diferentes interesses, divergentes ritmos e ocasiões distintas. E justamente por percebermos o que nos une assim, tão disperso, mal podemos acreditar que escapou o momento, quebrou-se o vínculo e ficamos novamente avulsos, sem aquela identificação fraternalmente humana.
Vemos as mudanças, todas com excesso de urgência, e perdemo-nos em tantos futuros sucedendo-se na velocidade que o tempo, acelerado, nos apresenta. Atemorizados, mal podemos identificar o que tende a se perder e o que é para sempre. Asfixiados pela ambição das conquistas, inebriados pelo novo, catamos tudo que é possível ao longo dos muitos caminhos e angustiadamente pedimos... agarrados ao que nos é precioso... consistência que preserve o que nos sustenta.
quarta-feira, abril 13, 2005
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário