A superfície macia das lembranças onde me aconchego, onde a música toca incessante, a ebriedade e o vazio de pensamentos tranqüilamente premeditados envolvem-se, quase naturais.
É isto que aqui fica.
Por ora, estarei lá, na aridez reta em que traço minhas resoluções.
quarta-feira, março 23, 2005
domingo, março 20, 2005
Uma semana sem arriscar palavras. Enquanto isso, zappeando por blogs alheios. Brigando contra o sono para readquirir o hábito do estudo - e perdendo vergonhosamente.
Ficando entusiasmado com fotografias que ainda não tirei, e com imagens que acho que nunca vou conseguir captar.
Reaprendendo a acreditar. Selecionando bons interesses. Cultivando boas convivências e, também, alternando alguns momentos de vertigem com outros de descomprometido entusiasmo.
Sim, os últimos dias têm sido, em sua maior parte, de um agradável bem-estar. Alegres. Menos consagrados ao futuro e mais ao presente - ao menos até que se descubra a velocidade certa em que devemos nos movimentar rumo à construção do novo.
Como diria Clarice, esses dias serão descontados dos meus anos de vida. De todo modo, creio que têm sido muito bem gastos.
Ficando entusiasmado com fotografias que ainda não tirei, e com imagens que acho que nunca vou conseguir captar.
Reaprendendo a acreditar. Selecionando bons interesses. Cultivando boas convivências e, também, alternando alguns momentos de vertigem com outros de descomprometido entusiasmo.
Sim, os últimos dias têm sido, em sua maior parte, de um agradável bem-estar. Alegres. Menos consagrados ao futuro e mais ao presente - ao menos até que se descubra a velocidade certa em que devemos nos movimentar rumo à construção do novo.
Como diria Clarice, esses dias serão descontados dos meus anos de vida. De todo modo, creio que têm sido muito bem gastos.
sábado, março 12, 2005
quarta-feira, março 09, 2005
Dancing day
Explora que eu gosto! Paga cem reais pelas minhas manhãs, minhas tardes, minha vida. Dá-me qualquer trocado, documentado, assinado em carteira, que eu vou aonde quiser, faço os trabalhos mais árduos, ou até mesmo os banais. Empresta-me qualquer título, ou o que chamam de cargo, e assim serei digno, terei futuro, prolongarei estas horas indefinidamente e poderei enxergar um pouco adiante em meus dias, mesmo com os olhos baixos.
Tenho vergonha, é verdade... Aquele ambiente, por algum motivo que não se explica, me parece hostil. Sinto-me desconfortável. No entanto irei lá, onde dizes. Formalizarei tudo, preencherei formulários, provarei minha honra em títulos: os números do meu documento são limpos – suja só a minha testa, gotejante, farta, pingando banha.
Responderei a tudo constrangido, seguirei todos os protocolos... Só não tolerarei amabilidades! Por favor, nada de gentilezas - elas sempre me deixam embaraçado. De resto nada temerei e, ao fim de tudo, colocarei lá o meu dedão sujo de tinta, trêmulo, desajeitado, deixando um borrão que é meu nome e só serve para mostrar que minha palavra não precisa de provas, apenas de formalidades. De longe, todo dedo é igual.
Aproveita também os nossos filhos, moças e rapazes soltos, perdidos, pois precisam mesmo de algo que lhes dê futuro. Afinal gastam, muitos deles, os dias a jogar bola, ver novelas, fazer sem-vergonhices. Ainda se revoltam, veja só; cabeça vazia é mesmo oficina do diabo. Convém então ganharem algum trocado. Vivem soltos e, no entanto, há os que arranjam um futuro - têm sorte! Carteira assinada, “tique” refeição e um papel do INPS que lhes dê segurança.
Mas tem a danada da revolta... Sei até de gente que encasquetou que o mundo estava errado, que não era assim, que morria-se de trabalhar - para quê? Devem ser preguiçosos, estes... São maioria, eu sei, mas vivem calados, que não são loucos de dizerem que querem ser ricos e dividir, pois sabem que os outros, sensatos, explodiriam em uma galhofa, debochando.
Eu também tenho cá dentro os meus descontentamentos. Vejo nossas crianças, muitas delas estão na escola, já (elas sabem até desenhar seus nomes), e os rapazinhos trabalham, ganham a vida como Deus ajuda... Mas por alguma inquietação tola que desconheço, sinto aqui dentro algo que não entendo e me parece, às vezes, que não é tão feliz essa oportunidade que nos dão, esse trabalho que nos ofertam... Não que seja ganância, mas parece que o dinheiro é tanto, e tanto disso nós mesmos é que construímos...! Nessas horas até sinto vontade de juntar-me aos outros, aqueles que falam em mudança, acreditam em demasia, alimentam esperanças e revoltas... Aqui mesmo há muitos. E também os que criam histórias bonitas, apresentações que parecem pintura e música vibrante que corta a tarde quando faz calor, ecoando nos cantos, em cada viela.
Mas isso tudo é tolice, então explora que eu gosto, enquanto eu espanto essa vontade incômoda de sonhar e ganho minha vida em tua casa, em tua “firma”, e assim serei grande. A vida não me ilude nem ludibria esta certeza com que vencerei esta miséria, vitorioso - como os fortes.
________________
Do exército de reserva - ou estoque de homens "disponíveis", a baixo custo, prontos para serem legalmente escravizados.
E também da ilusão da oportunidade do capitalismo, que incute até mesmo nos mais sofridos a crença na superação pelos méritos e a falsa certeza de que os dias melhores dependem apenas de esperteza e perseverança - deitando às costas dos explorados, além da miséria, o peso da culpa pela situação de desamparo em que vivem.
Da revolta.
Do medo.
Do desatino.
Explora que eu gosto! Paga cem reais pelas minhas manhãs, minhas tardes, minha vida. Dá-me qualquer trocado, documentado, assinado em carteira, que eu vou aonde quiser, faço os trabalhos mais árduos, ou até mesmo os banais. Empresta-me qualquer título, ou o que chamam de cargo, e assim serei digno, terei futuro, prolongarei estas horas indefinidamente e poderei enxergar um pouco adiante em meus dias, mesmo com os olhos baixos.
Tenho vergonha, é verdade... Aquele ambiente, por algum motivo que não se explica, me parece hostil. Sinto-me desconfortável. No entanto irei lá, onde dizes. Formalizarei tudo, preencherei formulários, provarei minha honra em títulos: os números do meu documento são limpos – suja só a minha testa, gotejante, farta, pingando banha.
Responderei a tudo constrangido, seguirei todos os protocolos... Só não tolerarei amabilidades! Por favor, nada de gentilezas - elas sempre me deixam embaraçado. De resto nada temerei e, ao fim de tudo, colocarei lá o meu dedão sujo de tinta, trêmulo, desajeitado, deixando um borrão que é meu nome e só serve para mostrar que minha palavra não precisa de provas, apenas de formalidades. De longe, todo dedo é igual.
Aproveita também os nossos filhos, moças e rapazes soltos, perdidos, pois precisam mesmo de algo que lhes dê futuro. Afinal gastam, muitos deles, os dias a jogar bola, ver novelas, fazer sem-vergonhices. Ainda se revoltam, veja só; cabeça vazia é mesmo oficina do diabo. Convém então ganharem algum trocado. Vivem soltos e, no entanto, há os que arranjam um futuro - têm sorte! Carteira assinada, “tique” refeição e um papel do INPS que lhes dê segurança.
Mas tem a danada da revolta... Sei até de gente que encasquetou que o mundo estava errado, que não era assim, que morria-se de trabalhar - para quê? Devem ser preguiçosos, estes... São maioria, eu sei, mas vivem calados, que não são loucos de dizerem que querem ser ricos e dividir, pois sabem que os outros, sensatos, explodiriam em uma galhofa, debochando.
Eu também tenho cá dentro os meus descontentamentos. Vejo nossas crianças, muitas delas estão na escola, já (elas sabem até desenhar seus nomes), e os rapazinhos trabalham, ganham a vida como Deus ajuda... Mas por alguma inquietação tola que desconheço, sinto aqui dentro algo que não entendo e me parece, às vezes, que não é tão feliz essa oportunidade que nos dão, esse trabalho que nos ofertam... Não que seja ganância, mas parece que o dinheiro é tanto, e tanto disso nós mesmos é que construímos...! Nessas horas até sinto vontade de juntar-me aos outros, aqueles que falam em mudança, acreditam em demasia, alimentam esperanças e revoltas... Aqui mesmo há muitos. E também os que criam histórias bonitas, apresentações que parecem pintura e música vibrante que corta a tarde quando faz calor, ecoando nos cantos, em cada viela.
Mas isso tudo é tolice, então explora que eu gosto, enquanto eu espanto essa vontade incômoda de sonhar e ganho minha vida em tua casa, em tua “firma”, e assim serei grande. A vida não me ilude nem ludibria esta certeza com que vencerei esta miséria, vitorioso - como os fortes.
________________
Do exército de reserva - ou estoque de homens "disponíveis", a baixo custo, prontos para serem legalmente escravizados.
E também da ilusão da oportunidade do capitalismo, que incute até mesmo nos mais sofridos a crença na superação pelos méritos e a falsa certeza de que os dias melhores dependem apenas de esperteza e perseverança - deitando às costas dos explorados, além da miséria, o peso da culpa pela situação de desamparo em que vivem.
Da revolta.
Do medo.
Do desatino.
domingo, março 06, 2005
Só para divulgar:
Agora estou escrevendo também em um outro blog, juntamente com as meninas mais viajadas do Grupo Ação. :p
É o agoraetarde.blogspot.com. Por enquanto ele ainda está visualmente pouco atrativo, mas depois a gente muda o template e deixa ele mais apresentável. :p
P.S. Agradecimentos a Mari, que teve essa idéia de juntar a gente num negócio desses, né?
Agora estou escrevendo também em um outro blog, juntamente com as meninas mais viajadas do Grupo Ação. :p
É o agoraetarde.blogspot.com. Por enquanto ele ainda está visualmente pouco atrativo, mas depois a gente muda o template e deixa ele mais apresentável. :p
P.S. Agradecimentos a Mari, que teve essa idéia de juntar a gente num negócio desses, né?
sexta-feira, março 04, 2005
quarta-feira, março 02, 2005
Pulou no tempo, no vazio das horas. Corpo flexionado se contorce, suspenso, curvo, tensionado, para espalhar o ar numa brisa imperceptível. É dos membros agitados a fração daquele segundo, a perfeição daquela queda, antes que a água o engula, salgada, mole, embrulhando-se em movimentos ondulados. Pernas agitadas não tateiam o fundo, enquanto na boca resta o convite petulante: a hora, agora... Pula!
Na quietude, senta-te ao longe, nem precisa ir, é completa aqui a nossa alegria. Os barcos passam – ou será só lembrança mal-contada, fantasia de um píer? –, o horizonte vai longe, assim, do alto onde estamos, onde a cerveja é gelada e a nicotina embebeda olhos marejados. Houvesse uma câmera e dali sairia uma fotografia, mas o que sai é lembrança – e a gente vive tanto que esquece de guardar. Porque alegria, ali, não se escreve com luz - se escreve na retina de quem vê, calado... Sorriso nem chega ao rosto: dissolve-se em algum lugar lá dentro, na música que toca sem fim, única, repetida, numa atmosfera apenas de quem escuta atrás dos olhos, perto da boca que não canta, parada, e numa melancolia feliz de momento desejado, daqueles que a gente dá a vida para ter e nem percebe.
Vê a brincadeira! Naquele momento é apenas a água, e é tão feliz que ninguém mais precisa participar... Deixa os meninos brincarem, fedendo a peixe, gotejando sal, aproveitando a água um pouco suja – que seja! Deixa tudo se repetir, incessantemente: a mesma escalada para um novo salto, o alarido, a água espalhada e ressentida da brincadeira, revidando o insulto com uma força impensada que os puxa para baixo, sem sucesso. Conserva tudo ali, distante, porque a gente só precisa ver, agora, entendendo que nosso entusiasmo também cresce assim: nós todos imóveis, próximos, sorvendo o frescor gelado de uma bebida enquanto as conversas ficam em silêncio. Assim também é que podemos permanecer crianças, aspirando à beleza das águas e cristalizando este momento.
Ele pulou mais uma vez. E o outro, agora. E outro que os segue, apressado. Mas para cada um de nós não precisa mais nada, nem sequer descer até lá...
...Que o nosso pulo nos enverga, também, e ficamos suspensos, assim, à medida que se aproxima a inevitável queda.
Na quietude, senta-te ao longe, nem precisa ir, é completa aqui a nossa alegria. Os barcos passam – ou será só lembrança mal-contada, fantasia de um píer? –, o horizonte vai longe, assim, do alto onde estamos, onde a cerveja é gelada e a nicotina embebeda olhos marejados. Houvesse uma câmera e dali sairia uma fotografia, mas o que sai é lembrança – e a gente vive tanto que esquece de guardar. Porque alegria, ali, não se escreve com luz - se escreve na retina de quem vê, calado... Sorriso nem chega ao rosto: dissolve-se em algum lugar lá dentro, na música que toca sem fim, única, repetida, numa atmosfera apenas de quem escuta atrás dos olhos, perto da boca que não canta, parada, e numa melancolia feliz de momento desejado, daqueles que a gente dá a vida para ter e nem percebe.
Vê a brincadeira! Naquele momento é apenas a água, e é tão feliz que ninguém mais precisa participar... Deixa os meninos brincarem, fedendo a peixe, gotejando sal, aproveitando a água um pouco suja – que seja! Deixa tudo se repetir, incessantemente: a mesma escalada para um novo salto, o alarido, a água espalhada e ressentida da brincadeira, revidando o insulto com uma força impensada que os puxa para baixo, sem sucesso. Conserva tudo ali, distante, porque a gente só precisa ver, agora, entendendo que nosso entusiasmo também cresce assim: nós todos imóveis, próximos, sorvendo o frescor gelado de uma bebida enquanto as conversas ficam em silêncio. Assim também é que podemos permanecer crianças, aspirando à beleza das águas e cristalizando este momento.
Ele pulou mais uma vez. E o outro, agora. E outro que os segue, apressado. Mas para cada um de nós não precisa mais nada, nem sequer descer até lá...
...Que o nosso pulo nos enverga, também, e ficamos suspensos, assim, à medida que se aproxima a inevitável queda.
Assinar:
Postagens (Atom)