sábado, novembro 27, 2004

Há muito tempo, já, deveria ter falado aqui sobre uma preciosa aquisição com que me presenteei, no mês de setembro, após um bom tempo em que estive lendo versos soltos de Mário de Andrade, presentes em forma de citação, nos escritos de Fernando Sabino – este segundo, por sinal, muito contribuiu para estimular meu gosto pela poesia, ao mostrar-me por meio de suas citações o quão próxima ela poderia estar de nós, cotidianamente, e dissipar o restinho do odiável preconceito que reduz os poemas a meras reflexões amorosas carregadas de passionalidade e romantismo exacerbado.
Enfim... Tal aquisição trata-se do volume Poesias Completas, de Mário de Andrade. Comprei-o e estavam lá todos aqueles versos bonitos, estranhos ou curiosos com que me deparei no livro de Sabino e que despertaram meu interesse em conhecer melhor as poesias deste controvertido escritor. Confesso que fico um pouco perplexo com o teor de boa parte dos poemas, que considero um tanto “inacessíveis” ou, diria até mesmo, “ininteligíveis”, carregados que são de antigas expressões populares (é notável a pesquisa dos costumes populares e das tradições e a busca da brasilidade por Mário de Andrade), símbolos, metáforas, figuras de linguagem... Mas tranqüilo que sou com relação a essa questão do “entender racionalmente” e do “descobrir intimamente significados estéticos, idéias subjetivas e sensações, mesmo quando não se entende perfeitamente o que se lê”, não vejo grandes problemas nessa minha dificuldade e sigo, besta que sou, sem conseguir pegar o livro e não folheá-lo quase que por completo. Aliás, é assim que normalmente o leio: folheando, lendo poemas pela metade, emendando versos, fazendo “mosaicos poéticos”, como um leitor hiperativo.
Devidamente apresentada essa minha aquisição, digo que vou tentar postar uns poemas aqui de vez em quando, já que existem tão poucos poemas de Mário de Andrade na internet e alguns eu acho realmente bons.
O primeiro, então, é só um trecho, na verdade, do Rito do Irmão Pequeno, dedicado a Manuel Bandeira e muito citado por Sabino. Resolvi começar por esse pelo fato de que essa semana foi muito difícil para um bocado de gente, inclusive pra mim...


VI

Chora, irmão pequeno, chora,
Porque chegou o momento da dor.
A própria dor é uma felicidade...

Escuta as árvores fazendo a tempestade berrar.
Valoriza contigo bem estes instantes
Em que a dor, o sofrimento, feito vento
São conseqüências perfeitas
Das nossas razões verdes,
Da exatidão misteriosíssima do ser.

Chora, irmão pequeno, chora,
Cumpre a tua dor, exerce o rito da agonia.
Porque cumprir a dor é também cumprir o seu próprio destino
E chegar àquela coincidência vegetal
Em que as árvores fazem a tempestade berrar
Como elementos da criação, exatamente.

2 comentários:

Patricia Leal disse...

Fábio, né por nada não, mas que invejinha q eu fiquei dessa sua aquisição viu! hauhauahu tu sabe que eu sou uma maníaca por livro né :P não posso ver/ouvir falar de um livro interessante que já to querendo ler hauhauaua

eu lembro que você havia me falado, meses atrás, de alguns livros que tinha comprado, e que teus nicks legalzões do msn (muito massa teus nicks :P hauauahaua) eram do livro de Mário de Andrade. pra tu ter noção, eu vivo lembrando de uma frase q tava no teu nick: "tenho todo um mapa-múndi de estados da alma" (é mais ou menos isso né?) muito linda essa frase. e é perfeita pra quem muda de estados da alma a cada semana, como eu :P hauhauaua

ahh, vou aproveitar e pedir um favor: posta a poesia que tem esse frase num outro post então?! =P já que eu não tenho o livro, me contento com o blog de Fábio!! :D aêêê huahauhaua

bjão pra tu Fábio!!

ps.: depois quero notícias suas do vestibular ;) espero q vc tenha feito bos provas :)))

Da Mata disse...

o rito da agonia! pois é, Fábio...
Poema perfeito para a semana última.
Eu não saberia explicar, ainda bem que
temos Andrade.