Mas é tocante, sim, a morte dos dois, não apenas porque eram dois diretores pretensiosos, abusados e que se interessavam por temas difíceis e universais – e, portanto, parte de uma espécie em vias de extinção - mas, particularmente no caso de Bergman, por se tratar de um homem que sempre pensou com tanto interesse a vida e a morte.
Bom, acho que o melhor que me ocorre hoje é relembrar uma cena que está sempre presente em minha cabeça: a atriz Elizabeth Vogler, estarrecida, sem palavras, observando na televisão a cena de um manifestante atear fogo ao próprio corpo, em plena rua. A atriz muda, o diretor mudo. Diante de alguns fatos, diante da vida, da realidade, a arte se cala. A única coisa que existe é a perplexidade. A atriz que encara o mundo e, diante dele, não tem palavras, é uma representação imagética certeira para como muitos de nós nos sentimos diante de fatos inomináveis. Neste sentido, posso dizer que Bergman traduziu em imagens nosso desatino.
Depois de Persona, eu nunca mais vi filmes da mesma forma. E só por este, acho, Bergman já pode ser considerado um gênio. Mas ele fez muito mais. Afinal, ele era mestre em evocar sentimentos e atmosferas densas em seus filmes. Quem duvida, basta ver Gritos e sussurros. O sofrimento da mulher que agoniza e a angústia dos familiares que têm um parente morrendo len-ta-men-te, para um espectador mais sensível, que se deixa envolver, chega a ser insuportável.
Poucos como ele nos mostraram como traduzir idéias
Nossa, fui funesto, agora, hein? É a influência desse velho sueco.